TEXTURAS



Há uma aspereza ardida cutucando a parede 
Ou a minha vida.

Há uma farpa afiada decalcando a pintura
Ou a minha coxa.

Um insistente fogo queima uma palha ao longe.
Estrelas crepitam fátuas e etéreis no tapete onde eu me deito.

As árvores lá fora despejam o seu perfume.

E o cheiro da noite é doce
Como o meu quando derrama-se em oferenda a ti

Como a tua saliva misturada à minha

Ou à minha carne.

As texturas dentro de mim são rústicas
Como os teus pelos roçando minha pele.

Algo me foge.
Algo volta a mim.

Num fluxo excitante vou formando as tuas curvas.

Livros vazios escrevem minhas histórias.
Canetas invisíveis arriscam e esboçam os meus traços fartos.

Desenho-me inteira na parede, na pintura, na noite
Ou em ti.

Eu te escrevo com o meu corpo.

Eu te trago com o meu gozo.
Num movimento erótico e penetrante

Mergulho na densidade dos teus instantes

Ou me perco.

Há em cada parte da minha pele um altar ao teu nome.
Assim sacio a minha fome.

Descrevo num suspiro o que o meu corpo pulsa.

Trancafiada nesse sonho de te ter mais fundo e perto

Ou eu morro
Ou desperto.


Van Luchiari ©



FOTO-LOGIA


em minha face lancina 
minha caminhada 
onde escancaro os sulcos 
com surdo rancor 
a salina das lágrimas completa 
minha sanha e exibe 
o retrato da vida passada 
e retalhada que esqueceu 
o fio de sua navalha 
nessa carne marcada.

 (Dora Vilela)

Jukebox

 
↑Top