CONHEÇO A RESIDÊNCIA DA DOR



Conheço a residência da dor.
É um lugar afastado,
Sem vizinhos, sem conversa, quase sem lágrimas,
Com umas imensas vigílias diante do céu.

A dor não tem nome,
Não se chama, não atende.
Ela mesma é solidão:
Nada mostra, nada pede, não precisa.
Vem quando quer.

O rosto da dor está voltado sobre um espelho,
Mas não é rosto de corpo,
Nem o seu espelho é do mundo.

Conheço pessoalmente a dor.
A sua residência, longe,
Em caminhos inesperados.

Às vezes sento-me à sua porta, 
na sombra das suas árvores.
E ouço dizer:
"Quem visse, como vês, a dor, já não sofria".
E olho para ela, imensamente.
Conheço há muito tempo a dor.
Conheço-a de perto.
Pessoalmente.


(Cecília Meireles)







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Não te trago ouro
Porque ele não entra no céu
E nenhuma riqueza deste mundo

Não te trago flores
Porque elas secam e caem ao chão

Te trago os meus versos simples
Mas que fiz de coração...

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TEXTURAS



Há uma aspereza ardida cutucando a parede 
Ou a minha vida.

Há uma farpa afiada decalcando a pintura
Ou a minha coxa.

Um insistente fogo queima uma palha ao longe.
Estrelas crepitam fátuas e etéreis no tapete onde eu me deito.

As árvores lá fora despejam o seu perfume.

E o cheiro da noite é doce
Como o meu quando derrama-se em oferenda a ti

Como a tua saliva misturada à minha

Ou à minha carne.

As texturas dentro de mim são rústicas
Como os teus pelos roçando minha pele.

Algo me foge.
Algo volta a mim.

Num fluxo excitante vou formando as tuas curvas.

Livros vazios escrevem minhas histórias.
Canetas invisíveis arriscam e esboçam os meus traços fartos.

Desenho-me inteira na parede, na pintura, na noite
Ou em ti.

Eu te escrevo com o meu corpo.

Eu te trago com o meu gozo.
Num movimento erótico e penetrante

Mergulho na densidade dos teus instantes

Ou me perco.

Há em cada parte da minha pele um altar ao teu nome.
Assim sacio a minha fome.

Descrevo num suspiro o que o meu corpo pulsa.

Trancafiada nesse sonho de te ter mais fundo e perto

Ou eu morro
Ou desperto.


Van Luchiari ©



FOTO-LOGIA


em minha face lancina 
minha caminhada 
onde escancaro os sulcos 
com surdo rancor 
a salina das lágrimas completa 
minha sanha e exibe 
o retrato da vida passada 
e retalhada que esqueceu 
o fio de sua navalha 
nessa carne marcada.

 (Dora Vilela)

TERNURAS



Trouxe-te flores e não estavas.

Que se há de fazer com ternuras?



(Antônio Brasileiro)



TRÊS


♥ S T I L L   L O V I N G   Y O U ♥

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DIGITAIS




Minha 
pele 
reconhece 
tuas 
digitais,
E arde, 
inflama-se, 
queima 
em labaredas 
gigantescas...

INSENSATEZ?

NEM O TEMPO, A DISTANCIA OU O SILÊNCIO PODE ACABAR

AFFFF...!



Venho levando tanta coisa na esportiva 
que mereço até uma medalha!


Jukebox

 
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