DESAPEGO



Não sei se foi por preguiça, por condicionamento, pela dificuldade de estarmos plenamente atentos no instante de cada ação. O fato é que a planta havia morrido há meses e durante todo aquele tempo eu continuei a regá-la, como se estivesse ali. O vaso cheio de terra, vazio de verde, permanecia no mesmo lugar, entre os outros, como se nada houvesse acontecido. Toda vez que eu repetia o movimento, eu me dava conta da estranheza do meu gesto, mas acabava me entretendo com outra coisa e adiava mais uma vez a retirada do vaso. Outra hipótese é o embaraço que às vezes temos para reconhecer* a morte das coisas. Para aceitar que o tempo delas acabou, embora possa ser tão óbvio como um vaso sem planta.


(...) Nossos gestos de desapego são capazes de criar espaço 

para o novo.Plantei outra muda de planta naquele vaso. 
A última vez que vi, estava florida. 


(Ana Jácomo)

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