TALVEZ APENAS UNS GOLES

Talvez fosse apenas falta de vida: estava vivendo menos do que podia e imaginava que sua sede pedisse inundações.
“Talvez apenas alguns goles...”

Era assim, eu e você. E nós dois. Não assim juntos, mas cada um em sua própria realidade que canalizava uma ligação entre ambos.
Estavam próximos porque coincidiam.
Não voavam mais alto do que podiam mas sonhavam mais alto do que poderiam. E esse era o segredo.
Não queriam se revelar por inteiro, pois isso só não bastava.
Primeiro haveriam de sentir.
A definição viria do outro lado.
O seu espelho.
O espelho do que queria e o que não deveria.
O espelho do medo de ser e o receio de não chegar a ser.
Embriagados pela própria verdade e sentido.

E como num impulso de vida, ela deixou de ser o que queria.
Matou o poeta, sucumbiu o que já foi dito.
Engajou o primeiro sentido encontrado e foi feliz, do modo oposto ao que desejava.
Suposições pretas e brancas.
Mundo real inventado sob medida.
Fatos verídicos que tomam notas líricas em descompasso irreal.

Talvez fosse apenas falta de vida...

"Sobretudo tenho medo de dizer porque no momento em que tento falar não só não exprimo o que sinto como o que sinto se transforma lentamente no que eu digo"
                             (Clarice Lispector)


Anna Moon

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